*Por Eduardo Belotti

A diferença entre valor e preço de ação é um questionamento importante no mercado de renda variável. Mas, apesar de serem praticamente sinônimos na língua portuguesa, na bolsa de valores, as duas palavras têm significados bastantes diferentes. Saber a diferença entre essas duas palavras é fundamental para fazer escolhas adequadas e para obter retornos atrativos no futuro.

O valor de mercado de uma empresa é obtido se contabilizar o número total de ações negociadas e multiplicar pelo preço das ações. Já o número de ações só muda em casos de novas emissões ou de fechamento de capital. Então, o que realmente determina a variação do valor de mercado de uma ação é justamente o preço das ações.

Esses números refletem o quanto o mercado acredita que as empresas valem, de fato. Caso a percepção dos investidores indique que o preço está muito alto, eles vão vender e realizar esse lucro, jogando o preço mais para baixo. Se os investidores acreditam que o preço da ação está barato, tendem a comprar e fazer o preço subir.

Isso faz com que o valor de mercado de qualquer empresa aberta em bolsa seja, na verdade, o valor que os investidores estão dispostos a pagar por ela. Mas, existe uma diferença disso para o valor real da empresa.

O valor real da empresa é difícil de mensurar: existem vários modelos de valuation de empresas e eles geralmente levam em consideração a projeção futura de lucro. Warren Buffett e os adeptos do Value Investing costumam ter formas de calcular o valor justo da ação, que eles chamam de valor intrínseco ao se basear em indicadores da empresa.

Quando olhamos para empresas menores, em mercados de maior incerteza, como as startups, por exemplo, definir o valor correto de uma ação se torna muito difícil de ser feito justamente porque é muito difícil pensar em como vai ser o futuro desse mercado.

No caso de empresas grandes, mais consolidadas, essas estimativas do valor intrínseco são mais simples de fazer. Por isso, as maiores empresas da bolsa, as famosas Blue Chips costumam ter muito menos volatilidade do que as outras.

Como o valor de mercado de uma empresa é regido pelo preço de sua ação, e o preço da ação é regido pelo humor dos investidores, não é raro haver uma queda repentina desse valor no caso de eventos inesperados. Que eventos são esses? Brumadinho, coronavírus, greve dos caminhoneiros, por exemplo.

Esses eventos costumam fazer os investidores ficarem avessos ao risco e sair de suas posições em empresas que podem ser afetadas por eles, fazendo o preço despencar.

Por exemplo, nos dias que seguiram ao rompimento da barragem de Brumadinho, as ações da Vale caíram na ordem de 25%. Isso significa que a empresa perdeu 25% de seu valor intrínseco? Provavelmente não.

Seu valor de mercado foi impactado. Mas é difícil dizer que seu valor intrínseco foi impactado na mesma intensidade. A receita da Vale não teve um impacto negativo de 25% do dia para a noite. E, se projetar a receita futura, também é difícil afirmar que a Vale teria uma perda de 25% de receita ao longo do tempo.

O que de fato aconteceu? Investidores saíram do papel acreditando que a empresa poderia ir para o buraco, fazendo o preço despencar muito mais do que seria o racional. Isso abriu uma grande oportunidade para quem percebe a diferença entre valor real, ou valor intrínseco da empresa para o valor de mercado.

Quem investiu em Vale depois dessa queda viu seu patrimônio crescer em torno de 30% no ano seguinte. Hoje, a bolsa está bastante depreciada por causa de toda essa crise do coronavírus. Todas as empresas perderam bastante valor de mercado. E o valor justo dessas empresas?

Depende do futuro e estamos num cenário de muitas incertezas. Mas, assumindo que o coronavírus vai passar e a vida normal será retomada, faz sentido acreditar que o valor intrínseco de muitas ações da bolsa é maior do que o valor de mercado delas.

Eduardo Belotti é formado e apaixonado por engenharia mecânica pela PUC-Rio em 2015, trabalhou na Falconi, onde começou a investir e começou a ter a dor de acompanhar os investimentos.