*Por Ernani Reis

Na noite de segunda-feira (16), o ministro da economia, Paulo Guedes, anunciou uma série de medidas emergenciais para mitigar o impacto do coronavírus na economia nacional.

A proposta prevê a injeção de R$ 147.3 bilhões nos próximos três meses, distribuídos em medidas para atender aos setores da economia (matéria prima, indústria, e venda de bens imateriais e serviços), prover a manutenção de empregos (R$ 59.4 bilhões) e dar suporte aos grupos de cidadãos mais vulneráveis, que ficarão com a maior fatia de R$ 83.4 bilhões, incluindo o cadastro de um milhão de novas famílias no Bolsa Família.

Medidas fiscais como o adiamento do pagamento do Simples Nacional, interrupção do depósito do FGTS no período e redução de 50% nas contribuições do Sistema S, também foram anunciadas e deixam clara a intenção de gerar caixa e aumentar o fôlego dos setores econômicos e, consequentemente, da população. Do meu ponto de vista, as medidas do governo brasileiro se mostram acertadas, permitindo um alívio financeiro para as companhias e as famílias no período mais conturbado, indo além da simples oferta de crédito, porém ainda um pouco limitadas.

Isso porque, como ponto falho das medidas anunciadas pelo ministro, destaco a não-inclusão de incentivos mais específicos para os setores de aviação e turismo, que já apresentam dificuldades em se manter por conta própria, além da falta de medidas que atendem a população que vive na informalidade e, portanto, não tem acesso aos benefícios que serão antecipados pelo governo neste momento.

Dessa forma, poderemos ver, no médio e longo prazo, um aumento no número de desempregados, que minimizaria a “economia” prevista com a Reforma da Previdência, ao sobrecarregar o INSS e afetar as já combalidas contas públicas, assim como uma redução no já baixo consumo das famílias.

Diante disso, é importante observar que não se trata de passar pela crise sem sequelas. À essa altura, elas já se mostram inevitáveis e em escala global. Tanto que o Boletim Focus divulgado na manhã de segunda-feira (16), por exemplo, já revelou uma projeção de crescimento do PIB na casa de 1.68% para este ano, muito abaixo dos 2.30% previsto ao final de janeiro.

Trata-se, portanto, de uma verdadeira corrida contra o tempo para minimizar os impactos. As medidas estão sendo tomadas pensando no curto prazo, algo entre três e quatro meses, em consenso com o ciclo da epidemia vista em outros países. No caso do Brasil, porém, um país ainda em desenvolvimento, a guerra de preços do petróleo, que tem sido pouco citada, também preocupa e pode se tornar um verdadeiro ralo na arrecadação do governo, que contava com os royalties do petróleo como parte importante da receita deste ano.

O fato é que as projeções só devem retomar a um nível de assertividade real a partir da segunda metade do ano e, uma vez superada a epidemia, teremos que discutir outras medidas para acelerar a retomada econômica, incluindo a continuidade da aprovação das reformas.

*Ernani Reis é analista da Capital Research

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