Carlo Barbieri*
Como todo o fato político, a visita do presidente Bolsonaro a Washington suscitou várias interpretações e conclusões. Alguns fatos são conclusivos e merecem destaque.
Econômicos
Não há dúvida que foi um bom começo. A entrada do Brasil na OCDE é auspiciosa e vinha sendo tentada há muito tempo. Deve resultar em uma diminuição dos custos financeiros nas operações internacionais, tão importante após a perda do Brasil do seu “selo de qualidade” pelos desmandos da administração financeira do governo de Dilma Rousseff .
Porém, fora este fato e os recursos que advirão da autorização de uso da base de Alcântara, os benefícios dependerão de um intenso trabalho do setor empresarial e os representantes dos governos. Lembremos que não havia nenhum plano ou trabalhos concretos para serem tomadas medidas. O Itamaraty já havia excluído os EUA de qualquer estudo ou projeto, há muitos anos.
Até 2002 os EUA representavam 26% da nossa pauta comercial que foi reduzida para cerca de 10% nos últimos anos. Lembremos que a maioria das exportações para os EUA na época (73% ) era composta de produtos industrializados e semielaborados, que geravam empregos mais bem pagos e desenvolvimento tecnológico. Do que sobrou, as comodities tiveram preferência. O ideal seria já termos uma pauta que pudesse nos levar ao acordo de livre comércio mas, não tínhamos nada preparado para isto e os maiores “payers” (empresários) sequer iniciaram as tratativas. A política do ministro Ernesto Araújo encontra enorme resistência na base do Itamaraty e na Apex para fazer desta relação um sucesso e traga bons dividendos ao Brasil.
Por outro lado, a facilitação de entrada de turistas deve ter seu saldo positivo em termos de empregos e receitas para o país se as condições de segurança interna ajudarem. A questão da reciprocidade, neste caso, não faz sentido por razões econômicas e fluxo de turistas.
Segurança e corrupção
A visita à CIA e os acordos firmados com o FBI devem trazer uma nova fornada de troca de informações que fortalecerá nossa luta contra a corrupção. A mudança de governo e a potencial perda territorial da
Venezuela poderá fazer com que vários movimentos terroristas, hoje amparados por aquele país, busquem novas bases de atuação.
Neste sentido, o Brasil representará um país ideal, por suas fronteiras amplas e não resguardadas, pelo imenso território e, principalmente, por grupos extremamente organizados e armados que já têm estrutura no país. A cooperação com organismos de inteligência externa poderá ajudar a evitar tragédias que, felizmente, não enfrentamos ainda no nosso território.
Pontos fora da curva
Vários pontos podem ser motivo de observação numa análise independente. O primeiro deles foi o jantar na casa do embaixador brasileiro em Washington, com um desafeto do vice-presidente do Brasil e um desafeto do atual presidente dos EUA. Realmente não era necessário.
Assim como, as declarações, logo corrigidas, com relação aos brasileiros indocumentados no exterior. Nos EUA, somos 1,5 milhão de brasileiros. Seguramente, uma boa parte deles votou em Bolsonaro (na
Flórida mais de 90%). São pessoas trabalhadoras que fugiram justamente da realidade econômica, fruto dos desmandos das políticas, que Bolsonaro trata de corrigir e, em função das quais, Bolsonaro se elegeu. Saíram do Brasil, porque era não eram dadas as condições de sobrevivência sem o “amparo assistencialista”. São empreendedores que, só na Flórida, criaram mais de 30.000 empresas.
*Carlo Barbieri é fundador da Oxford USA