* Por Marcos Boysen, argentino e CEO da Smilink

Empreender é um desafio. Empreender em outro país torna a tarefa ainda mais árdua. Quando cheguei ao Brasil, em 2015, a convite de um fundo de private equity para formar parte da cúpula diretiva da empresa aqui, não passava pela minha cabeça começar algo do zero. Porém, após dois anos, abrir o meu próprio negócio se tornou não apenas uma opção, mas, sim, um desejo iminente.

O choque cultural entre a minha formação e dos meus “hermanos” brasileiros foi a primeira barreira a ser transpassada nesse processo. Contudo, não vejo como um ponto negativo. O Brasil possui uma cultura de negócios muito mais objetiva, onde a tendência é alcançar o consumidor, convergindo com o que acredito ser o ideal. As variações também são aplicadas no relacionamento com os fornecedores e na gestão de pessoas.

Um segundo aspecto interessante e, no meu caso, extremamente motivador, é que empreender fora do meu país de origem, Argentina, torna o desafio maior no âmbito de networking. Apesar de já estar familiarizado no Brasil, aqui não possuo a rede de contato que tinha lá, por exemplo. Cada passo representa uma novidade, um processo desconhecido, deixando tudo com o sentimento de “primeira vez”. Além disso, a barreira do idioma dificultou algumas aproximações comerciais.

Apesar de tudo, o anonimato me permite uma liberdade até então não experimentada. O fato de poucas pessoas saberem quem eu sou afasta os curiosos querendo dar sugestões. Ressalto que ouvir opiniões é sempre muito bem-vindo, mas quando você começa a tirar suas ideias do papel, muitos palpites podem gerar insegurança. Ao empreender fora do meu país não precisei lidar com isso.

Uma coisa é certa: experiência de empreender é complexa, seja onde for. O processo vai criando patamares, você vai testando coisas, alternativas, comprovando erros e trilhando um caminho novo a partir daí. A minha experiência é de alguém que trabalhou muito tempo com empresas, mas sempre vivendo uma outra ótica, criando com poucos recursos e interesse dos stakeholders em geral.

O desafio maior para todos que querem começar um novo negócio é o mesmo em qualquer lugar do mundo: convencer os investidores a apostar em algo que ainda está sendo testado e os fornecedores a oferecer um produto mais barato para alguém que, a princípio, não existe. O desafio de começar a conversar com todas as esferas e fazer com que elas caminhem em uma mesma direção é bem diferente de todos que eu já vivi na vida.

No balanço final, acredito que, se tivesse novamente que escolher entre empreender na Argentina ou em um país estrangeiro, escolheria o exterior por dois motivos: o desafio me atrai e, no meu ponto de vista, as portas para outros países se abrem mais facilmente. É mais prático para quem vem de fora criar algo no Brasil e levar para outros países, principalmente no próprio continente, do que um brasileiro que vive e empreende em seu país natal. Eu já estou além da fronteira.

Marcos Boysen

Fundador e CEO da Smilink, startup do mercado odontológico que planeja revolucionar o mercado de ortodontia, o argentino Marcos Boysen veio para o Brasil em 2015, quando foi convidado por um fundo de private equity para formar parte da cúpula diretiva. Após dois anos na empresa, Marcos resolveu empreender no mercado odontológico, investindo em um modelo de negócio diferenciado, focado em tecnologia 3D, qualidade e oferecendo uma melhor experiência para o cliente. Com mais de 10 anos no mercado de investimentos, é formado em Engenharia Industrial pelo Instituto Tecnológico de Buenos Aires (ITBA), possui MBA pela IAE Business School, além de ser formado em desenvolvimento profissional nos Estados Unidos.