*Por Vivian Portella
Trabalho com câmbio há mais de 10 anos e acho que essa é uma das perguntas mais comuns dos amigos e clientes. A verdade é que se alguém pudesse prever completamente as oscilações das moedas este alguém estaria milionário. Todavia, é possível fazer algumas previsões com base em expectativas diante de determinados cenários. Porém, havendo alguma mudança no cenário, o que é bastante comum, essas previsões podem ir completamente por água abaixo.
O Boletim Focus, por exemplo, relatório emitido periodicamente pelo Banco Central do Brasil, divulga uma média das análises de expectativas das cinco principais instituições financeiras que mais acertam nas previsões. No caso do câmbio do dólar, o Boletim Focus emitido em janeiro de 2019 estimava que o real fosse cotado a R$3,80 ao final de 2019. Ao longo do ano as previsões foram se ajustando e, o último relatório divulgado em setembro, já tinha aumentado a estimativa para R$ 4.00. E agora no final de novembro atingiu o patamar de R$ 4.26.
Neste período, contamos com diversas variáveis, internas e externas, que fizeram o mercado demandar mais ou menos da moeda dólar. Passamos por questões políticas e econômicas brasileiras, desde eleições, reforma da Previdência, alianças internacionais e investimentos externos no Brasil (ou a falta deles), até questões externas internacionais, como desgastes políticos na zona do euro, mercado asiático, preços de commodities, relações comerciais dos Estados Unidos com outros países, corte de juros americanos, imposição de barreiras comerciais e, até mais recentemente, sobre um possível impeachment do presidente Trump. Isso para citar apenas os fatos mais relevantes.
As obrigações com credores internacionais geram a necessidade dessa previsão, usualmente por conta de contratos a médio e longo prazo pactuados em dólar, onde os centavos contam muito. E a ansiedade de prever o mercado molda o mercado, criando cenários reais muitas vezes com base apenas na especulação.
Aos viajantes brasileiros, a turismo ou negócios, que conseguem se planejar com certo prazo, uma possibilidade é realizar compras periódicas ao longo do período anterior à viagem, conseguindo então uma média mais razoável de cotação, podendo manter seu saldo de moeda estrangeira em espécie, cartão pré-pago ou conta bancária internacional.
O fato é que nem as instituições mais especialistas são capazes de acertar 100% nas previsões, devido às inúmeras variáveis impactantes na volatilidade da moeda. A única certeza desse mercado é a incerteza sobre o que vai acontecer. De toda forma, prometo aos amigos e clientes que não discursarei sobre economia e política quando me perguntarem se o dólar vai cair.
*Vivian Portella é diretora de Governança e uma das sócias da B&T Global Consulting, além de colaboradora da BizBrazil Magazine. Este artigo foi originalmente publicado na edição de novembro de 2019 na revista
Recent Comments