As recentes medidas adotadas pelo presidente Bolsonaro para acenar ao governo norte-americano em busca de vantagens não foram bem aproveitadas pelo Brasil, até o momento. Uma realidade que se difere do sucesso obtido por empresários brasileiros que internacionalizam seus negócios para a terra do tio Sam.

Apostando numa relação ‘ganha-ganha’, estes empresários têm sido leoninos no mercado americano, que já conta com 9 mil empresas brasileiras, segundo dados do Ministério de Relações Exteriores. O presidente do Oxford Group, consultoria que auxilia empresários brasileiros no exterior, Carlo Barbieri, afirma que o Governo deve se inspirar nessa lógica empresarial brasileira para converter os acenos em vantagens concretas ao Brasil.

“Quando um empresário brasileiro internacionaliza sua marca, produto ou serviço aos EUA, ele está em busca de vantagens no território americano, e, muitas vezes, visando proteger o passado de sua empresa no Brasil. Ou seja, busca o sucesso nos dois países. Toda relação comercial deve ser inspirada na reciprocidade. Politicamente, o jogo diplomático deve considerar essa relação ganha-ganha”, pondera Barbieri que é economista e analista político.

No fim de agosto deste ano, o governo aumentou a cota de etanol que o Brasil pode importar com isenção de impostos. De 600 milhões de litros ao ano, passou para 750 milhões. Como as compras com os EUA correspondem a mais de 99% das importações desse produto em solo brasileiro, a medida, promulgada por meio de uma portaria, foi mais um ‘olá’ à gestão de Donald Trump. “Com a iminente saída de empresas americanas da China, por causa da guerra comercial, estes acenos podem dar aos empresários americanos a segurança necessária para trazerem sua produção para o Brasil, gerando investimentos e empregos, além de melhorarem nossas exportações” afirma o economista.

Carlo Barbieri lembra que, em um contexto parecido, Bolsonaro já havia cedido, em março, a base aérea de Alcântara, no Maranhão, para exploração comercial dos norte-americanos. O especialista pondera que, nesses casos, devem haver contrapartidas mais claras para os acordos serem vantajosos ao Brasil. Na ocasião, o governo americano sinalizou a inserção com maior destaque do Brasil na OTAN.

“Numa relação comercial existem muitos fatores que precisam ser considerados. Politicamente, o Brasil precisa urgentemente se preparar para tirar vantagem da guerra comercial da China com os EUA e não perder esse momento tão único para nosso país. Esta nova aliança mundial entre os EUA, México deve ter no Brasil uma base concreta de planejamento e atuação, incluindo a perspectiva da entrada da Inglaterra neste eixo comercial”, explica Carlo Barbieri.

Momento de recuperar vendas

Como a 22ª maior economia de exportação do mundo, conforme o Índice de Complexidade Econômica (ICE), o Brasil vem sofrendo perdas nas suas vendas ao exterior. De 2012 para 2017, houve queda de 2.6% nesse volume, o que significou menos US$ 28 bilhões nos cofres brasileiros. O economista explica que os EUA já representaram 26% do Comércio Exterior Brasileiro até 2003, percentual que foi declinando ao longo do tempo chegando a atingir apenas 11% no ano passado.

“Lamentavelmente esta perda de volume, também se refletiu na qualidade dos produtos exportados para os Estados Unidos. Eram 73% em manufaturados e semielaborados. O Brasil precisa recuperar o saldo de exportações. As boas relações comerciais recentes entre Bolsonaro e Trump ajudariam a costurar acordos nesse sentido”, afirma Carlo Barbieri.

Janela escancarada

Da mesma forma, a China é uma grande importadora de soja, produto que correspondeu a 12% de todas as exportações brasileiras em 2017, e estuda criar uma taxa adicional sobre as compras desse grão junto aos EUA. Seria outra oportunidade paralela para escoar a produção nacional e fortalecer a economia.

Outro exemplo recente que poderia se converter em uma chance de ampliar negócios ao Brasil foi o zeramento de tributação sobre quase 500 produtos, entre itens farmacêuticos e de tecnologia, como incentivo a investimentos no País. Muitos, como artigos de informática e eletrônicos, percorrem a cadeia comercial que envolve China, Brasil e os EUA.

“A briga do governo Trump para baixar o preço dos remédios pode motivar as empresas Internacionais a se instalarem no Brasil, tendo em vista não apenas o mercado interno, como principalmente as exportações. A atração desses investimentos pode ser uma chance de costurar um jeito de turbinar exportação de outras commodities nacionais para ambos os países. Existe a necessidade de identificar exatamente as carências que podem ser supridas e as demandas que podem ser geradas, mas o saldo final é a necessidade de uma ação profunda neste campo e feita de forma urgente”, pondera o presidente do Oxford Group com sede em Boca Raton na Flórida.

*Carlo Barbieri é analista político e economista. Com mais de 30 anos de experiência nos Estados Unidos, é presidente do Grupo Oxford, a maior empresa de consultoria brasileira nos EUA. Consultor, jornalista, analista político, palestrante e educador. Formado em Economia e Direito com mais de 60 cursos de especialização no Brasil e no exterior.