Por Josefina Guedes
No final de 2019, o Executivo brasileiro fez um balanço do primeiro ano de governo, apesar do atual governo ter encontrado um país completamente endividado, contas públicas caóticas, déficit fiscal elevado e altíssima taxa de desemprego nunca visto antes na história do país.
O balanço de 2019 foi muito positivo, inflação em 4%, juros em 5%, IBOVESPA 108.000 pontos, juros internos 0,8% e Risco-País elevado para 116 pontos.
O ano de 2020 será de realizações ainda maiores, com o calendário das privatizações e aumento das Parcerias Público-Privadas, permitindo a realização dos maiores investimentos em infraestrutura já vividos pelo país e, claro, a aprovação das reformas tributária e administrativa, tão urgentes como a previdenciária aprovada em 2019.
Com relação à área internacional a grande realização de 2019, foi o fechamento do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que se arrastou por 20 anos, e é considerado por todos como estratégico e excelente para as economias de todos os países-membros envolvidos. Para vigorar plenamente, tal acordo deverá ser aprovado pelos parlamentos dos países em no máximo um ano e meio, prazo considerado normal para esse tipo de arranjo comercial.
Importante também a assinatura de acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), bloco formado por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça, de negociações iniciadas desde 2017. Este acordo também terá de ser aprovado pelos parlamentos, podendo entrar em vigor bilateralmente.
Para 2020, a área internacional segue com uma agenda bem intensa, visto que Brasil e Mercosul possuem calendários de negociação com Canadá, México, Singapura e Coreia do Sul, entre outros.
Em relação aos países, considera-se que seriam prioritários os Estados Unidos e o México. Com os EUA, a proposta é realizar uma área de livre comércio. Sobre o México, o Brasil já conta com um acordo automotivo importante, além de outro acordo bilateral mais tímido. As negociações caminham para ampliar estes acordos, sem um desenho ainda decidido se será acordo de livre comércio ou acordo parcial. Há muito interesse da parte brasileira, mas ainda não está claro o interesse dos mexicanos, principalmente porque acabou de iniciar um novo governo.
Com relação ao Canadá, o formato é de um acordo de livre comércio. Foram realizadas nove rodadas negociadoras e acreditamos que o calendário seja acelerado para concluir o acordo até o final deste ano.
Diante das negociações em curso e as futuras que já estão sendo avaliadas pela Camex, o próximo foco do Conselho de Ministros do governo brasileiro será a Ásia, como os países do bloco da ASEAN. Diante disso, 2020 promete ser um ano ainda mais acelerado no calendário negociador.
Com relação ao mundo, no final do ano passado, foi muito interessante a palestra do secretário especial de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Sr. Marcos Troyjo, no Conselho de Relações Internacionais da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro). Resumiu o cenário mundial dessa última década, afirmando ter sido os Estados Unidos o maior ganhador da última década em relação aos investimentos e finanças internacionais. Justificou o resultado alcançado pelos investidores que conseguiram obter ganhos três vezes superiores investindo nos Estados Unidos do que aqueles que optaram em investir nos demais países.
Além disso, salientou que 88% das transações internacionais foram usadas em dólares norte-americanos, e 2/3 das reservas cambiais assentadas pelo mundo são em dólares norte-americanos.
Com todo esse cenário positivo, um PIB de $23 trilhões em 2019, que representa 25% do PIB global, e com uma economia pujante e de pleno emprego, observa-se a supremacia dos Estados Unidos, diferentemente do apregoado no início da década passada por muitos analistas, de que a China seria o grande centro financeiro econômico do mundo. Isto não aconteceu, talvez pelas intervenções do governo chinês na bolsa financeira, que gerou insegurança para os investidores, resultando na perda de apetite pela China, e aumentando ainda mais o interesse pelos Estados Unidos.
Em relação ao dólar, com todo esse cenário e a “guerra comercial” entre China e Estados Unidos, era previsível o fortalecimento dessa moeda, o que gerou uma vantagem comparativa, para exportações de países como o Brasil, nesse primeiro momento. Entretanto, não é instrumento apropriado de médio e longo prazo, como garantidor da competitividade das indústrias brasileiras no mercado internacional e nacional.
O Brasil conta com indústrias inovadoras, tecnológicas e sustentáveis. Mas o “Custo Brasil” tira a competitividade final dos nossos produtos, pela carga tributária elevada e complexidade tributária, exportação sem a total desoneração de impostos, redução da alíquota do Reintegra, energia elétrica e gás natural caros, logística complicada e burocratizada e custo elevado da mão-de-obra. Somente com a aprovação das novas reformas em curso e medidas econômicas iniciadas pelo novo governo poderemos reduzir o Custo Brasil a níveis aceitáveis.
Depois de duas décadas com o Brasil focado numa política externa para o Mercosul e em relações comerciais Sul-Sul, as exportações brasileiras resultaram nas exportações de produtos manufaturados para a Argentina. Tal estratégia focada em ideologia e não no pragmatismo, não decolou devido ao fato a Argentina não ter conseguido melhorar sua economia nesse período, o que impactou negativamente as indústrias manufatureiras brasileiras nesses últimos anos, agravando-se ainda mais com a crescente deterioração da economia argentina.
Atualmente, com o governo mais pragmático na política externa brasileira, observa-se que o Brasil não tem interesse de abandonar o Mercosul, mas, sim, abrir caminho para novas relações comerciais e maior inserção da economia brasileira com o mundo.
Assim, muitas medidas já estão sendo analisadas e implantadas pelo governo para maior competitividade da indústria brasileira e inserção nas cadeias globais.
2020 será um ano de maiores desafios para o atual governo, e ainda maior para todo o setor privado brasileiro, visto que as reformas precisarão seguir todos os trâmites internos necessários para serem aprovadas, mas a competição internacional e o mercado são cada vez mais velozes e vorazes, gerando um descompasso gigante entre o público e o privado.
Recent Comments