No mês de novembro, o superávit da balança comercial foi de US$ 3,7 bilhões, o que levou a um saldo positivo de US$ 51 bilhões no acumulado do ano. Nesse mesmo período em 2019, o saldo acumulado havia sido de US$ 42 bilhões. Em termos de valor, o comportamento dos dados agregados das exportações e importações repetiu o que vem ocorrendo ao longo do ano. A queda mais acentuada nas importações — 2,6% entre novembro de 2019 e de 2020 — do que nas exportações, recuo de 1,2%, explica o superávit. Na comparação interanual do acumulado do ano até novembro, essa diferença é ainda maior: exportações, queda de 7,4% e importações de 14,7%.
Sinais de retomada da atividade econômica refletiram-se no volume importado, que cresceu 9,5%, entre os meses de novembro de 2019/20, após quedas consecutivas na comparação mensal interanual desde junho. Observa-se que, entre outubro e novembro, o volume importado aumentou 13%. A taxa de câmbio efetiva real valorizou 3,8% entre outubro e novembro, o que pode ter contribuído para esse resultado. Além disso, o índice de preços das importações caiu 1,4% nessa mesma base de comparação, o que também favoreceu esse aumento. Quando analisa-se a variação no acumulado do ano até novembro, os resultados mostram outro cenário. Entre 2019 e 2020 o volume importado recuou 7,8% e os preços 7,6%, e o câmbio efetivo real desvalorizou 30%. Nesse caso, a desvalorização junto à queda do PIB em relação a 2019 explicam a queda na importações.
O volume exportado em novembro cresceu 0,2% em relação a igual período de 2019 e, na comparação do acumulado do ano até novembro, foi registrada uma queda de 0,5%. Os preços de exportações e importações caíram na comparação mensal interanual ao longo do ano, mas desde julho a queda nos preços de importados supera a das exportações, o que levou a um aumento nos termos de troca. Na comparação interanual, entre os meses de novembro, esse aumento foi de 10,9%.
A análise desagregada dos fluxos de comércio mostra aumento no volume exportado da indústria extrativa e da transformação entre os meses de novembro, e queda de 26,9% na agropecuária. A desaceleração nos embarques de soja explica esse resultado, enquanto o aumento das vendas de bens de consumo duráveis e não duráveis, explica o resultado para a indústria de transformação. No caso da extrativa, o aumento foi liderado pelo petróleo.
O volume importado cresceu 16,5% na agropecuária e 11,2% na indústria de transformação e recuou 9,9% na extrativa. Entre os produtos do setor da agropecuária que registraram elevação de volume acima de dois dígitos destacamos: milho; carne bovina “in natura”; fumo em folhas; e, soja em grão. Outros produtos como óleo de soja, arroz, couro, farelo de soja de origem agro, mas que são classificados na indústria de transformação, também registraram o mesmo comportamento. Além disso chama atenção, o aumento no volume importado de alumínio, laminados planos e cobre.
A escolha desses produtos está associada ao debate analisado pela Sondagem da Indústria elaborada pelo FGV IBRE sobre declarações de representantes dos setores sobre a falta de insumos no mercado doméstico e no mercado internacional. A pressão sobre a demanda poderia traduzir-se em pressões inflacionárias. Aumento nos índices de preços das importações acima de dois dígitos foram registrados para algodão, óleo de soja, soja em grão, semimanufaturas de ferro e aço e arroz.
Ressalta-se, em especial, os produtos que aumentaram o volume importado e que tiveram aumento nos preços, como principais componentes de uma pressão inflacionária advinda das importações. Adicionem-se produtos com pequena elevação ou mesmo queda de preços, mas com registro de aumento de importações. Como já destacado, a desvalorização do câmbio efetivo foi de 30% entre novembro de 2019 e 2020.
O efeito da pandemia traduziu-se em interrupções na cadeias de produção e elevação nos custos de transportes que traz pressões inflacionárias. No entanto, para que essa pressão leve a aumentos sustentados da taxa de inflação dependerá da retomada da demanda doméstica, algo que ainda não é consensual entre os analistas de conjuntura que venha a ocorrer.
Em relação aos mercados de nossas exportações, pelo segundo mês consecutivo, o volume exportado para a China recuou na comparação mensal interanual, embora no acumulado do ano aquele país lidere as vendas externas brasileiras. Observa-se que a participação da China chegou a 33% das exportações do Brasil no acumulado do ano, enquanto a de todos os países europeus soma 18,5%. Para a Argentina, o aumento em 43,2% (novembro 2019/20) é explicado pelas vendas do setor automotivo.
Com esses resultados em novembro, o superávit da balança comercial poderá ficar em torno de US$ 55 bilhões, em dezembro. No comércio exterior brasileiro, a Ásia, em especial a China, consolida e avança na sua liderança como parceira comercial do Brasil.
Análise da Balança Comercial: outros índices de preços e volume.
O desempenho das commodities continuou positivo em termos de volume e com variação negativa nos preços. Todos os índices de preços e volume das não commodities apontaram queda.
A variação por categoria de uso do volume exportado da indústria de transformação (IT) mostra que as vendas de bens de consumo duráveis continuam com tendência de alta, associada à venda de automóveis, mas essa categoria representou apenas 4,5% do total exportado pela IT, em novembro. As vendas de bens de consumo não duráveis (27,5% do total exportado da IT) registraram variação positiva na comparação mensal e no acumulado do ano. Para o principal grupo, o dos bens intermediários (58,4% do total exportado da IT), as exportações cresceram em novembro, mas no acumulado do ano recuaram.
O crescimento das importações em novembro dos bens de capital contribui para o aumento na taxa de investimento da IT. Ao mesmo tempo, as compras de bens intermediários após meses consecutivos de queda, registraram aumento de 11,1%, em novembro. Esses dois resultados indicam uma recuperação da indústria de transformação e descartam, por enquanto, a hipótese de substituição das importações.
São mostradas também as importações de máquinas e equipamentos e de bens intermediários pela indústria e pela agropecuária. Em novembro, as compras de bens intermediários aumentaram para os dois setores. Em 2019, o setor agropecuário havia registrado aumentos superiores a 100% nas compras de máquinas na comparação mensal interanual com 2018. Com o câmbio desvalorizado e com a base elevada de compras de 2019, a variação negativa de 2020 fica explicada.
Todos os mercados os bens intermediários constituem a principal categoria. Esse é um resultado característico do atual comércio mundial. No entanto, notam-se algumas diferenças: China e União Europeia têm pautas similares, embora na China a concentração nos bens intermediários seja explicada por poucos produtos (soja em grão, minério de ferro, petróleo) enquanto na União Europeia a pauta é mais diversificada. Estados Unidos e Ásia (exclusive China) têm participação similar de intermediários, mas, nos Estados Unidos, o segundo principal grupo é o de bens de capital; na Ásia, o principal grupo é o de bens de consumo não duráveis. Argentina e o restante da América do Sul apresentam o maior grau de diversificação.
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