A balança comercial de fevereiro registrou um superávit de US$ 1,2 bilhão, o que compensou o déficit de US$ 986 milhões, em janeiro, levando a um superávit acumulado de US$ 166 milhões no primeiro bimestre de 2021. A variação das exportações foi de 3,9% e das importações de 13,4% na comparação interanual de fevereiro de 2020 e 2021.

Como explicar o aumento das importações num momento de desavalorização cambial e incertezas quanto ao crescimento no nível de atividade? Esse aumento está, em parte, associado ao efeito das plataformas de petróleo. Em termos de volume, a variação foi de 20,8% e sem as plataformas de 9,3%. Nas exportações, o aumento no valor exportado é explicado pelo variação positiva dos preços (8,9%), já que o volume recuou 4,3%. Todas as comparações consideram o período entre fevereiro de 2020 e 2021.

As commodities explicam cerca de 65% das exportações brasileiras. O aumento dos preços das commodities foi de 13,8% entre os meses de fevereiro de 2020 e 2021. Quando se analisam os índices de preços de exportações das commodities brasileiras, os destaques são: minério de ferro (75%); outros minerais (43, 5%); e, complexo soja (18,5%). Os preços das não commodities cresceram nessa mesma base de comparação, mas em um percentual bem inferior, 2,1%.

O aumento nos preços das commodities, que começou no segundo semestre de 2020, levou a uma melhora nos termos de troca. Não se alcançou o pico dos preços durante o boom de 2010, mas é o maior índice desde 2011. No ICOMEX de janeiro de 2021 analisamos o debate sobre um novo super ciclo de preços de commodities. As dúvidas persistem, mas as políticas expansionistas dos Estados Unidos e da China apontam que a tendência de alta dos preços das commodities deverá persistir durante 2021.

O desempenho em termos de volume exportado por tipo de indústria mostra queda em todos os casos, exceto a variação positiva de 1,4% na indústria de transformação, na comparação interanual do mês de fevereiro. Nas importações, todos os setores registraram aumento do volume importado. Na indústria de transformação, a variação ficou em 6,9% bem inferior aos 18,6%, se excluirmos as plataformas de petróleo.

O aumento nos volumes importados seria um indicativo de uma recuperação da economia? No caso de investimentos, os dados não são promissores. A única variação positiva foi de 1,6% para compras de máquinas do setor agrícola entre os meses de fevereiro de 2020 e 2021. Já as compras de bens intermediários sinalizam crescimento da agropecuária, com um aumento de 69,2% entre fevereiro de 2020 e 2021; mas para a indústria, o cenário é de um ritmo comparativamente mais lento.

O principal produto exportado em fevereiro foi o minério de ferro, que explicou 17,8% das exportações brasileiras e registrou um aumento de 95% na comparação interanual do mês de fevereiro de 2020 e 2021. A China comprou 61% das exportações brasileiras desse produto cujas vendas aumentaram 112% para esse mercado. Nesse cenário, a participação da China nas exportações brasileiras ficou em 30% no mês de fevereiro, seguida dos Estados Unidos com percentual de 10,5%.

A análise da variação do volume exportado em fevereiro para os principais mercados de destino mostra queda para a China e aumento para os Estados Unidos e “Demais da América do Sul”. Observa-se no caso da China, que soja, petróleo e minério de ferro – os principais produtos de exportação do Brasil e do comércio Brasil-China – recuaram em relação ao ano de 2020. No caso da soja, os embarques começaram mais cedo no ano passado. Para os Estados Unidos, as vendas de aeronaves e produtos siderúrgicos explicam o aumento no volume exportado. Para “Demais América do Sul”, as vendas de produtos de equipamentos de transportes para o Chile são o destaque.

A retração no volume exportado para a China não deverá permanecer nos próximos meses fazendo com que a participação do país na pauta brasileira continue ao redor de 30%.

Índices de volume e preços desagregados por setores CNAE
Os novos índices do ICOMEX de preços e volume abrangem todas as atividades da CNAE 2.0 desagregadas a 2 dígitos. A série dos índices é mensal e inicia em janeiro de 1998. Essa base de dados auxilia na avaliação do desempenho do comércio exterior do Brasil.

O debate sobre a desvalorização cambial e o efeito nas exportações de alimentos e bebidas causou aumento de preços exportados de produto alimentícios, que começou em 2020. No caso do volume, chama atenção a variação de 20,2%, entre 2019/2020, o que seria compatível com a hipótese de alguns analistas de que a desvalorização cambial estimulou as exportações e acabou por pressionar os preços domésticos. No caso das bebidas, as exportações estavam aumentando desde 2019. Os preços dos produtos importados de produtos alimentícios recuaram nos períodos e o volume cresceu.

Entre 2019/2020, o volume importado de produtos químicos recuou e o de fármacos cresceu 13%. No primeiro bimestre de 2021 em relação a 2020, foram registrados aumentos de 31,7% e de 44,4% para químicos e fármacos, respectivamente, provavelmente explicados pelas demandas associadas a COVID 19.

O volume importado na fabricação de máquinas e equipamentos, após crescimento entre 2018/2019, passou a apresentar queda e na comparação entre os dois primeiros bimestres de 2020 e 2021 recuou 33%. Trata-se de uma evidência adicional do baixo nível de investimento do país. Aparelhos de informática cresceram no primeiro bimestre; possivelmente é reflexo do uso mais acentuado de formas de comunicação virtual.

O desempenho dos setores de equipamentos de transporte, após queda entre 2019/20, tanto as exportações como as importações, registraram aumentos no primeiro bimestre do ano.

Não pretendemos apresentar análises sobre todos os setores nos informes mensais, exceto em casos que demandem especial atenção e influenciam na interpretação dos dados agregados.