Alguém que não a conhece pode confundi-la com uma jovem cuja prioridade é pensar em passar o tempo fazendo compras, se divertindo e vivendo uma vida com pouca conexão com a realidade.
Entretanto, por trás da face jovial de Sandra Gonoretske está uma profissional especializada em ética e due diligence com experiência em empresas conceituadas como Deutsche Bank, Barclays Bank, Nokia e Visa, sempre atuando no segmento de Compliance, algo cada vez mais em evidência no meio empresarial, sobretudo após os escândalos revelados nos Estados Unidos, Europa e Brasil, onde o Ministério Público fez um trabalho exemplar coletando provas para incriminar corruptos e corruptores que dominaram o cenário político com propinas pagas para obtenção de concessões de obras públicas.
Nessa entrevista, Sandra esmiúça esse tema ao mesmo tempo complexo e essencial para a sobrevivência das empresas – independente do tamanho.
BizBrazil Magazine – Você pode explicar a diferença entre realizar negócios com ética ou desconsiderar este fator nas negociações?
Sandra Gonoretske – Deixar de observar padrões de ética e integridade pode levar uma empresa a ter sua imagem fortemente atingida e comprometida e consequentemente a perder negócios. Além do dano à reputação e a perda de clientes, a não observância de padrões éticos ou a prática de atos de corrupção, fraude, lavagem de dinheiro, bullying, discriminação, preconceito, entre tantos outros, pode acarretar em multas, processos judiciais e prisão. Observar padrões de conduta ética, ajuda inclusive a empresa a manter bons funcionários, pois as pessoas querem trabalhar em um ambiente onde haja respeito e as leis e políticas são seguidas e cumpridas. Agir com ética é positivo para toda a sociedade.
Quais as vantagens de se adotar uma postura ética nas relações comerciais? Há riscos de parceiros pouco confiáveis se aproveitar disso? Ou existem mecanismos de proteção para as empresas mais sérias?
Ética é sempre o melhor negócio em qualquer relação. Devemos agir da mesma forma ética no ambiente de negócios com os quais lidamos em nosso ambiente familiar. Os parceiros não confiáveis ou que querem ter vantagem com atitudes antiéticas ou ilegais incorrem em diversos riscos, como responder criminalmente e serem presos. Não deveria existir espaço em nenhum tipo de ambiente profissional para parceiros pouco confiáveis.
As empresas mais sérias podem e devem fazer um processo de “Conheça o seu Parceiro”, conhecido como due diligence para se certificar de que seus parceiros são éticos ou que não terão nenhum tipo de atitude que poderá prejudicar seus negócios. Uma empresa pode ter sua reputação abalada ou ter prejuízos financeiros e ainda responder por algo que um parceiro seu tenha feito em seu nome, mesmo sem o seu conhecimento. Para se defender e evitar que isso aconteça, a empresa contratante terá de comprovar que adotou todas as medidas necessárias antes de ter contratado aquele parceiro, como, por exemplo, terem sido incluídas cláusulas de anticorrupção no contrato, que conferiu a existência de políticas de Compliance e padrões de ética e a participação dos funcionários em treinamentos de Compliance.
Como a Be Ethics pode ajudar empresas (e empresários) a evitar atos de corrupção, lavagem de dinheiro, fraudes etc.?
A Be Ethics oferece diversos serviços para as empresas como a elaboração de código de ética e conduta, políticas e procedimentos, treinamento de funcionários, revisão de controles internos, avaliação de riscos, implementação de processos que visam combater e mitigar a corrupção, a fraude e a lavagem de dinheiro, due diligence, investigações internas e canal de linha ética.
De que maneira o denunciante pode apontar malversação de fundos em uma empresa ser ser vítima de retaliação. Quais os direitos e os deveres do whistleblower? A Be Ethics faz um trabalho apurado para se certificar da veracidade da informação?
Um bom programa de Compliance garante e incentiva as denúncias de boa fé por parte de funcionários, parceiros e clientes. Mas, para garantir a efetividade do programa e para que o denunciante se sinta seguro, é imprescindível a garantia da não retaliação contra quem fez a denuncia.
A Be Ethics oferece uma linha ética externa onde o denunciante fará a denúncia podendo preservar sua identidade, evitando assim que haja qualquer conduta de retaliação por parte do denunciado ou de qualquer outra pessoa.
A Be Ethics pode ainda fazer a investigação na empresa através de entrevistas com funcionários, análise de evidências e auxiliar a empresa na conclusão sobre a denúncia efetuada.
A Be Ethics já tem um programa formatado para treinar funcionários de empresas sobre questões éticas? Ou isto é feito caso a caso, e não há um modelo padrão?
Os programas de Compliance devem ser adequados a cada empresa de acordo com o seu porte e ramo de atuação.
Existem algumas questões que geralmente são incluídas nos treinamentos de ética, como respeito, não discriminação, conflito de interesse, uso de cartão corporativo e as consequências da falta de ética. Mas os treinamentos não são padronizados; a cultura, os valores e as preocupações da empresa são sempre priorizadas.
Por exemplo, em uma empresa onde trabalham pessoas de países diferentes há que se reforçar a importância de entender que culturas diferentes devem ser respeitadas. Existem pessoas que não gostam de ser tocadas, então fazer massagem no colega de trabalho não é apropriado ou pode ser entendido com assédio. Há empresas que gostam que seja abordado como os funcionários devem se portar nas mídias sociais, ainda que estejam falando em seu perfil pessoal e não em nome da empresa. Há empresas que têm por política a proibição de se dar ou receber presentes e querem relembrar esta regra, outras tem uma preocupação maior com questões ligadas ao meio ambiente ou as condições igualitárias de trabalho.
Como a Be Ethics age para identificar e coibir casos de bullying e assédios moral e sexual?
Identificar e coibir bullying e assédio são alguns dos serviços oferecidos pela Be Ethics. Primeiramente, em termos preventivos. Oferecemos os serviços de treinamento, elaboração de políticas e o estabelecimento de processos onde se evitam na prática a ocorrência de casos de bullying e assédio. Adicionalmente, o estabelecimento da linha ética e as investigações complementam o programa, caso ocorram tais atos.
De que maneira as empresas precisam se preparar para se adaptar à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)?
Primeiramente é preciso ter uma mudança cultural dentro da empresa; será necessário o envolvimento, a conscientização e o comprometimento da empresa toda.
A Lei Geral de Proteção de Dados já está em vigor no Brasil e as empresas têm até agosto de 2020 para se adaptar. As mudanças podem ser significativas e todas empresas estão sujeitas à esta legislação. As empresas que não respeitarem ou não observarem o sigilo dos dados sensíveis poderão ser denunciadas e sofrerão as penalidades da lei. A LGPD segue padrões da Lei de Proteção de Dados Europeia. As empresas fora do Brasil que quiserem fazer negócio com empresas brasileiras terão de se adaptar à lei.
Será necessário fazer todo processo de identificação e detalhamento dos processos para entender onde estão os dados sensíveis, além de testes e revisão de processos, revisão de políticas internas e externas, revisão de contratos.
A Lava Jato está sob fogo cruzado por ter levado muitas empresas, outrora poderosas, à falência ou a uma enorme perda financeira. Você acha que a Lava Jato fez um bom trabalho ou deveria ser mais leniente e perdoar certas atitudes tomadas pelos corruptores e corruptos?
A Lava Jato é extremamente importante para acabar com a corrupção no Brasil e vem fazendo um trabalho muito bom em todos os sentidos para isso. Não tem de ser leniente de forma alguma.
Como essas empresas podem recuperar sua credibilidade após a revelação desses escândalos? Um programa de Compliance, aliado ao trabalho de PR, é suficiente ou precisa haver outras ações para apagar os maus feitos e recomeçar com nova roupagem?
Um programa de Compliance aliado ao trabalho de Public Relations é um bom mitigador para ajudar as empresas a recuperar a credibilidade, mas a implementação deste programa tem de ser feita antes da ocorrência de qualquer escândalo. Ter um programa efetivo devidamente implementado ajuda a mitigar a ocorrência de escândalo e protege os executivos e empresários, caso algo aconteça.
O programa de Compliance vai além de ter um Código de Ética publicado em um website. É muito mais do que isso. Um bom programa começa com o comprometimento da alta administração (“Tone at the Top”), além de ter controles apropriados, políticas e procedimentos, avaliação dos riscos e treinamento de funcionários.
Recent Comments