*Por Carlo Barbieri

Primeiramente, é importante definir o dólar com relação a que país e que moeda.

Internacionalmente, a moeda americana tem várias razões para perder valor. Destaquemos algumas:

· O endividamento público americano já chegou a 143% de seu PIB;
· Este percentual deve piorar, pois há algumas promessas de campanha, com investimento em infraestrutura (cerca de US$2 trilhões )perdão da dívida de bolsa de estudos dos estudantes (US$1.7 trilhão), nova rodada de apoio referente ao vírus que veio da China ($1.9 trilhão);
· Entrada da moeda virtual da China e aquelas já hoje no mercado, que, gradativamente, vão minando a capacidade do tesouro americano financiar o déficit, com emissão de títulos e moedas que são absorvidos internacionalmente;
· Necessidade de ampliar as exportações americanas, cujo déficit comercial aumentou, exponencialmente, durante a pandemia e, para isto, a desvalorização dá mais competitividade ao produto americano;
· Melhoria da economia internacional, em particular da União Europeia e da China;
· Ações ecológicas, como a paralisação o duto de petróleo desde o Canadá até o Golfo, que geram desemprego e diminuição da exportação de petróleo;
· Acordo entre a China, Irã e Rússia que mina o poder americano;
· Se, o enfraquecimento do dólar, favorece, economicamente, o interesse do atual governo americano, politicamente beneficia o interesse chinês em chegar mais rapidamente a se tornar a super potência mundial;
· Mas, nada tem a ver, com a cotação do dólar em relação ao real;
· O dólar, no Brasil, obedece menos à economia e mais às questões políticas e de insegurança quanto ao quadro interno da economia do país.;
Em termos econômicos, com uma enorme reserva em dólar que tangencia R$ 400 bilhões, e com o superávit comercial de 2020 que superou R$50 bilhões, o dólar deveria, ou poderia ter baixado até de forma expressiva.

Mas:
· Com um congresso marcadamente sem espírito público (vamos ver com a nova direção), que engavetava ou boicotava as soluções necessárias propostas pelo executivo;
· Uma suprema corte que se entendeu super poder e assumiu as decisões de governo, fazendo com que o país tivesse 12 presidentes, ou seja 11 juízes, além do eleito;
· Trazendo como consequência uma insegurança legal e institucional para o capital externo;
· Insegurança quanto aos investimentos internos;
· Inviabilidade de crescimento a curto e médio prazo do país;
· A destruição dos meios de combate a corrupção;
Tudo isto faz com que se busque uma segurança no dólar aumentando seu valor, por razões políticas e não por questões econômicas.

Por outro lado, como se retém capital, oferecendo aplicações de percentual menor do que a inflação, se em dólar, nos EUA, obtém-se remuneração de três vezes maior do que a inflação no país?

Como a inflação nos EUA ainda está em torno de 2% ou menos, para o brasileiro, a variação internacional em dólar não tem importância expressiva, pois seguirá comprando aqui, o que sempre comprou, com o mesmo valor.

*Carlo Barbieri é economista e CEO do Oxford Group