*Por Edson Hydalgo Junior
O mercado financeiro brasileiro se encontra, no momento, em uma situação complexa. Enquanto a reforma da Previdência é uma pauta importante para movimentar a economia, os investidores e o sociedade como um todo convivem com uma grande incerteza: o governo conseguirá se articular para aprovar essa pauta na íntegra ou se ela passará de forma desidratada?
O que isso significa?
A proposta de Paulo Guedes, atual ministro da Economia, é uma reforma para economizar R$1 trilhão. No entanto, da maneira que o governo está começando a trabalhar, a economia seria de apenas R$400 milhões.
Se aprovada dessa maneira, o que parece mais provável de acontecer, a reforma ajudaria apenas momentaneamente, não resolvendo por completo a situação atual. A Bolsa de Valores se manteria entre 80 e 90 mil pontos, aproximando-se dos 100 mil em alguns momentos.
Do contrário, se aprovada sem muito desgaste, a reforma da Previdência teria um impacto positivo no mercado de câmbio, com o real sofrendo uma modesta valoração, e traria uma maior valorização da Bolsa de Valores.
Falta de articulação do governo
Após as eleições, quando há a troca de governo no país, ocorre o que é comumente chamado de “lua de mel” entre os novos representantes e o mercado financeiro, que dura aproximadamente entre 4 a 6 meses. Durante esse período, o mercado consegue sentir quais são os planos de ação e poder de alcance do governo.
No entanto, o romance está acabando cedo demais neste ano. O mercado financeiro está começando a ter sinalização de que toda expectativa em cima do governo será frustrada. A percepção é de que os novos representantes estão perdidos nas articulações, com poucas habilidades políticas para lidar com a Câmara dos Deputados, muitos conflitos na internet e desautorização de ministros, o que, para muitos, sugere que ainda estão em campanha política em vez de cuidarem da gestão do governo.
Essa sensação nos primeiros três meses deixa muito claro que, se não conseguir aprovar a reforma da maneira como proposta, o país terá um ambiente político e econômico ruim, com um governo fraco ao longo dos próximos três anos. Potencialmente, com pouco impacto e desacreditado junto à população, aos empresários e investidores, a não ser que algumas mudanças drásticas venham acontecer.
A reforma tributária
Além da reforma da Previdência, a Tributária também é vista como uma medida importante que precisa ser levada em pauta. No entanto, como o governo está demonstrando falta de habilidade política, o foco continuará sendo na proposta do Paulo Guedes na Previdência.
No caso da reforma Tributária, dependendo da forma que for aprovada, alguns dos benefícios são o crescimento no PIB, desafogamento de empresas e desobstrução da cadeia de fornecedores, o que representaria um sistema mais simples, barato, rápido e menos burocrático.
Hoje, o nosso sistema tributário é organizado em forma de cascata. Isso significa que toda vez que a mercadoria troca de mão até chegar ao consumidor final a cadeia dos fornecedores é tributada – em vez de ter o imposto apenas no momento da venda. Esse modelo exige muito cuidado na hora de comandar uma empresa, pois os tributos são elevados e complexos.
Previsões para o ano: PIB, inflação e Bolsa de Valores
Diante desse cenário de instabilidade política e com uma retomada lenta da economia – o PIB no país cresceu apenas 1% em 2018, de acordo com o IBGE -, o Banco Central já começou a reduzir a previsão do crescimento para 2019, de 2,4% para 2%, e estima que a inflação fique entre 3% e 4,5%.
Pode ser que tenhamos alguma surpresa, mas, a depender do caminho que estamos trilhando, a década em que vivemos, de 2011 a 2020, será a pior no que se refere ao crescimento do PIB nos últimos 120 anos, com uma média de apenas 0,9% ao ano – pior até do que a “Década Perdida”, período de 1980, em que o PIB avançou, em média, 1,6% ao ano. Esse cenário de estagnação com inflação é o pior possível, reflexo de sucessivos déficits nas contas públicas, o que gerou um acelerado aumento da dívida do país.
A expectativa em relação à Bolsa de Valores é ela permanecer entre os 80 e 105 mil pontos até que haja alguma sinalização positiva da reforma da Previdência, o que levaria a um aumento do valor.
Até lá, a perspectiva é a manutenção dela nessa faixa.
*Edson Hydalgo Junior é commercial officer da Intrader DTVM
Sobre a Intrader DTVM
A Intrader DTVM é a 8ª instituição financeira independente do Brasil em administração fiduciária, com aproximadamente 120 fundos e gestão de R$7 bilhões em ativos. Fundada em 2012, atua como distribuidora, administradora e custódia de fundos, originando, estruturando e fazendo a colocação de créditos privados. No médio prazo, a instituição projeta um portfólio de 400 fundos de investimentos no total, chegando a R$40 bilhões em ativos.
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