Juliana de Moraes* – www.sincodiv.org.br

Formado em Direito pela UnB (Universidade de Brasília) e na Diplomacia desde 1992, Rodrigo Fonseca se tornou um especialista em Relações Comerciais. Passou pela Malásia, Guiana, mas destaca sua passagem por Paris, França, onde trabalhou e conviveu com o embaixador Sergio Amaral – hoje em Washington -, um exigente negociador da área de Negócios que atua com especial foco no fomento comercial entre países.

A experiência rendeu um convite para atuação na iniciativa privada brasileira, período em que se licenciou da carreira diplomática por seis anos, retornando em 2017 para a posição de conselheiro do Secom (Setor Econômico e de Promoção Comercial) do Consulado-Geral do Brasil em Miami, na Flórida, atualmente sob o comando do embaixadorJoão Mendes Pereira.

O desafio não é pequeno. A Flórida é o maior parceiro comercial do Brasil dentro dos Estados Unidos e o principal destino de investimentos brasileiros. Com o recebimento de cerca de 2.000 consultas ao ano de empreendedores sobre aspectos comerciais – o maior número dentre todos os Consulados do Brasil no mundo – Fonseca e sua equipe têm como meta melhorar a performance do Brasil nos negócios. Do comércio bilateral de $20,4 bilhões em 2018, o estado norte-americano vende mais do que o dobro, $14,7 bilhões, do que a nação brasileira inteira exporta para a Flórida de $5,7 bilhões.

Dos $2.5 trilhões importados pelos Estados Unidos em 2018, o Brasil exportou $31.2 bilhões. O que representa somente 1.23% do total das importações.

Confira a entrevista a seguir e saiba mais sobre o trabalho do diplomata e sua equipe em Miami, conheça as oportunidades que ele indica como proeminentes e os canais de suporte que o Consulado-Geral oferece para brasileiros interessados em exportar aos EUA!

BizBrazil Magazine: Fale um pouco sobre sua história e trajetória.

Rodrigo Fonseca: Nasci em Vitória, no Espírito Santo, mas minha família mudou-se para Brasília (DF) quando eu ainda era pequeno, por volta dos oito anos, em função de uma transferência de trabalho do meu pai. Acabei desenvolvendo toda minha trajetória acadêmica por lá, onde cursei Direito na UnB e ingressei no Instituto Rio Branco em 1992, e desde então sigo a carreira diplomática.

Como surgiu a oportunidade de assumir como conselheiro do Setor Econômico e de Promoção Comercial do Consulado-Geral do Brasil em Miami?

Ao retornar do período de licença, a posição de conselheiro do Secom do Consulado-Geral do Brasil em Miami foi oferecida para mim pela trajetória que havia desenvolvido até então. O desafio é grande! Nossa meta é, principalmente, melhorar a performance do Brasil nos negócios com a Flórida. Do comércio bilateral de $20.4 bilhões em 2018, o estado americano vende mais do que o dobro, $14.7 bilhões, do que a nação brasileira inteira exporta para a Flórida de $5.7 bilhões.

Quais as principais áreas de atuação do Secom do Consulado-Geral de Miami?

Trabalhamos fortemente no suporte aos empreendedores interessados em exportar e investir nos Estados Unidos. Recebemos, por meio do contato comercial.miami@itamaraty.gov.br, cerca de 2.000 consultas por ano sobre aspectos comerciais – o maior número dentre todos os Consulados do Brasil no mundo – e buscamos subsidiar empresários brasileiros com informações como potencial de mercado, concorrência, regras tarifárias para produtos e serviços.

Para que empresários brasileiros compreendam o contexto do mercado de produtos e serviços aqui no estado, elaboramos a publicação Como Empreender na Flórida – Um guia para a comunidade brasileira, disponível online, para download. Nela, desde providências para abertura de negócios, a regulamentos aplicáveis a mercadorias e informações sobre aquisição de companhias e joint ventures são temas abordados, entre outros assuntos.

Trata-se de todo um trabalho de inteligência oferecido sem custos para os empreendedores porque claramente o Brasil tem muito interesse de que ampliemos nossa participação na balança comercial com o país e, claro, equilibremos as trocas e negócios com o estado da Flórida, um importante polo consumidor norte-americano.

Além disso, a manutenção do suporte para a variedade de áreas que já atuam no comércio bilateral é relevante, a exemplo da indústria cafeeira e de aviação, assim como a identificação de segmentos potenciais para empresas brasileiras virem atuar e nos quais encontrem competitividade para “brigar” ante forte concorrência.

A relação completa de serviços prestados pelo Consulado-Geral de Miami à comunidade brasileira vale a pena ser conhecida, e está disponível por meio do site http://miami.itamaraty.gov.br/pt-br/setor_comercial.xml.

Que setores econômicos, em sua avaliação, têm potencial de desenvolvimento no estado da Flórida?

Vemos grande potencial para o comércio de bebidas, como vinho e cachaça; rochas ornamentais e startups ligadas à área de cibersegurança, em que temos tecnologia acima da média, em especial devido ao segmento bancário brasileiro.

Na Flórida, estima-se que o mercado de construção imobiliária deve continuar crescendo. Com isso, o mercado de rochas ornamentais, por exemplo, pode manter-se como um dos itens de grande valia em nossa pauta para o mercado americano. As exportações de granito e rochas ornamentais para os EUA, dominadas por chapas, somaram US$ 673 milhões em 2018, tem potencial de avançar e recuperar terreno. É preciso que trabalhemos na agregação de valores nestes produtos, além de melhorar a infraestrutura de transporte do país para baratear custos e sermos competitivos.

Hoje, todas as rochas extraídas no Espírito Santo, que é forte nesse setor, são obrigadas a embarcar por Santos (SP) porque o porto em Vitória não possui calado suficiente (fundura máxima que os navios podem atingir quando totalmente carregados) para receber navios de transporte desse tipo de produto. Só a distância, o tempo e o custo envolvidos nessa logística tornam nossas rochas mais caras e, assim, perdemos mercado.

Já na área tecnológica, o estado da Flórida vem crescendo nesse mercado e vemos que empreendedores brasileiros têm muito a agregar, trazendo para cá seus produtos para área de cibersegurança, mobilidade e gestão.

Em relação a projetos e iniciativas do Consulado-Geral de Miami, quais são aqueles que consideram mais relevantes?

A promoção de eventos com foco em fomento comercial está entre as nossas prioridades porque por meio deles realizamos encontros de negócios entre potenciais exportadores e importadores de produtos.

Trazer governadores também é uma boa estratégia na qual trabalhamos. Em geral, os representantes do Poder Executivo trazem com eles uma missão empresarial e organizamos, nessas ocasiões, reuniões de “matchmaking”, rodadas de negócios focadas em trocas comerciais com norte-americanos.

No que tange ao segmento de Turismo, vemos a isenção do visto para os americanos como uma estratégia importante. A expectativa é que o número de turistas provenientes dos EUA para o Brasil pode dobrar em menos de  uma década. Esse número hoje encontra-se na casa de 570 mil turistas americanos. Segundo dados da Embratur,  o fluxo de turistas dos EUA para o Brasil deve ter incremento de 25% com a isenção de visto recém-promovida pelo governo brasileiro.

Cmplementarmente, em eventos relacionados ao grupo de setores de potenciais exportadores, o Consulado-Geral tem buscado estar presente?

Sim! Sob a orientação firme e segura do embaixador João Mendes Pereira, cônsul-geral do Brasil em Miami, nós do Secom em conjunto com a Apex Brasil temos procurado fomentar o crescimento de start-ups e negócios aqui nos EUA em geral e neste estado em particular. Prova disso foi a realização há poucos meses de uma iniciativa da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) junto à qual estamos em contato para apoiar e fazer parte, que é o Projeto Start Out, de fomento ao comércio internacional de serviços tecnológicos de startups brasileiras.

Como vemos um vasto campo para atuação nacional na Flórida, queremos realmente estar próximos dessa iniciativa e recepcionar encontros, contribuir com conteúdo e o que mais for necessário para ajudar empresários brasileiros do setor. 

Como empreendedores brasileiros que planejam exportações e investimentos no país podem se manter informados das atividades do Consulado-Geral de Miami?

Além do nosso site (http://miami.itamaraty.gov.br/pt-br/setor_comercial.xml), em que são apresentadas as informações institucionais do consulado e os serviços prestados, elaboramos também um boletim semanal. É necessário solicitar a inclusão de seu e-mail na lista de contatos para que o informativo seja enviado. Para realizar este cadastramento, encaminhe uma mensagem para redebrasileirosnaflorida@gmail.com.

No boletim, tratamos de todos os temas nos quais o Consulado está envolvido. De aspectos comerciais a informações relacionadas à imigração, parcerias educacionais e dados para contato sobre eventos. A ideia é manter a comunidade brasileira de empreendedores e demais grupos atualizados sobre as atividades lideradas por nós.

A Flórida reúne uma comunidade que se estima em torno de 400 mil brasileiros, mas pode ser ainda maior. É significativa, considerando que os Estados Unidos abrigam um número que gira em torno de 2 milhões de pessoas do Brasil. Portanto, somos bastante requisitados e procurados, o que torna o Consulado-Geral de Miami uma importante referência, inclusive para norte-americanos.

Para finalizar, pode nos apontar, de acordo com sua experiência, como enxerga a evolução da balança comercial brasileira com a Flórida no futuro?

As perspectivas são boas. Penso que temos como alcançar um equilíbrio maior na balança comercial com o estado norte-americano. Passado o período eleitoral, e encaminhadas as reformas necessárias ao desenvolvimento e equilíbrio das finanças públicas do Brasil, teremos condições de retomar o projeto de qualificação da infraestrutura de transporte nacional e avançar em competitividade internacional.

Somos realmente relevantes para o estado americano, assim como também é essa região dos EUA para o Brasil. Cabe a nós olharmos para esse mercado, entender que trazer produtos para cá envolve pesquisa, eventuais adaptações e investimentos, pois espaço existe, mas é necessário estarmos conscientes de que estar presente na Flórida equivale a fazer parte do mercado mais concorrido do mundo.

*Juliana de Moraes fez a entrevista para o portal www.sincodiv.org.br do Sincodiv – Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado de São Paulo – que gentilmente nos autorizou a reproduzir este material na BizBrazil Magazine.