*Por Arnaldo Francisco Cardoso

No final do mês de outubro, acontecerá em Paris mais um Salão do Chocolate que reunirá produtores e demais profissionais de todo o mundo apresentando inovações em produtos e processos deste setor que movimenta mais de $100 bilhões anualmente.

Como ocorreu nas últimas edições do evento, produtores brasileiros marcarão presença. Nesta edição, amêndoas de cacau de duas fazendas brasileiras – Fazenda Panorama (PA) e Fazenda Leolinda (BA) – integram um seletíssimo grupo e disputarão o prêmio do Programa Internacional Cacau de Excelência. Os dois referidos produtores brasileiros são exemplares de um movimento que vem ganhando corpo no setor cacaueiro do Brasil, que visa agregação de valor ao produto. Uma das primeiras conquistas desse movimento foi o recente reconhecimento da Organização Internacional do Cacau (ICCO) que certificou o país como produtor e exportador de cacau fino.

Historicamentel, o setor do cacau-chocolate do Brasil operou na moldura de um setor voltado ao atendimento do mercado interno, que ocupa a quinta posição no ranking internacional de consumo de chocolate (500 m/t ano).

No que tange à internacionalidade do setor no Brasil, ela é marcada pela presença de empresas globais no mercado nacional sem a contrapartida (salvo algumas exceções) de empresas brasileiras no exterior. A venda da Lacta em 1996 para o grupo estrangeiro Phillip Morris foi um marco pois, somando ao desempenho da suíça Nestlé no país, as duas empresas passaram atender, na época, cerca de 65% do mercado nacional. Foi também em meados da década de 90, precisamente em 1994, que a gigante italiana Ferrero Rocher adentrou, via exportação, no mercado brasileiro. Três anos depois a italiana passou a produzir no país com uma planta instalada em Poços de Caldas (MG) que, em 2014, com investimento de cerca de R$300 milhões, dobrou sua produção no país. Também se soma à esse processo a formação em 2014 da joint-venture entre a Kopenhagen e a marca suíça Lindt, cuja projeção desta última é de atingir a marca de 50 lojas no país em 2020.

A experiência internacional mostra que, estrategicamente, um setor que enfrenta o aumento da presença de competidores estrangeiros em seu mercado passa a considerar a sua internacionalização como um caminho inescapável para a manutenção de competitividade e sustentabilidade econômica de suas empresas.

O setor do cacau e chocolate do Brasil vive um momento que tem sido percebido por muitos como de  renascimento. A maturidade do setor, com avanços na organização de produtores e marcas brasileiras consolidadas no mercado nacional lança indagações sobre o momento em que se dará sua internacionalização. Embora o histórico de internacionalização de empresas brasileiras de diferentes setores mostre que foram as de grande porte as que lideraram esses movimentos, no setor do cacau-chocolate o que temos visto, até o momento, tem contrastado com esse histórico.

Merece atenção as ações das pequenas e médias empresas do segmento bean-to-bar do Brasil que tem demostrado grande desenvoltura na promoção do chocolate brasileiro de qualidade em mercados estrangeiros. Ouvindo-as, tomamos conhecimento do interesse e demanda estrangeira pelo chocolate brasileiro de qualidade, especialmente os de origem. Muitas delas tem realizado exportações regulares para diferentes mercados, com destaque para o japonês.

A integração em redes de relacionamentos comerciais (network) para compartilhamento de conhecimentos e interesses constitui-se em poderosa ferramenta para abrir caminhos e servir de termômetro para a implementação de um plano de ações visando a internacionalização. A participação em feiras internacionais do setor também cumpre papel importante nesse processo. A formação de uma mentalidade internacional, através de cursos junto às equipes de colaboradores de empresas nacionais, contribui também para a realização desse salto qualitativo.

A entrada em mercados internacionais envolve incertezas, complexidade e riscos e entre seus benefícios destacam-se o fortalecimento de posição competitiva da empresa e a diminuição da dependência do mercado doméstico. Além de planejamento estratégico embasado em bom sistema de informação uma certa dose de ousadia é sempre necessária para converter oportunidades em realizações.

*Arnaldo Francisco Cardoso é pesquisador e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville. Atua nas áreas de Economia, Política e Negócios Internacionais.